Meu amor,
Perdoa-me por chamar-te de meu amor. Sei com o coração pesado que já não estamos juntos, mas não posso resistir a este eco do passado.
Escrevo-te porque não sou infinito e tu também não és. Caso pudéssemos viver para sempre, a carta não teria sentido. Na alma eu saberia que em um dos dias a vir, desta ou de outra geração, ficaríamos juntos, pois apenas nós caberíamos um no outro. Contra o meu gosto, porém, a vida tem limite imprevisível e preciso falar a ti, mais esta vez, que te amo.
Esta carta é o último sopro de uma esperança em decadência. Ela não morrerá, mas mudará qual lagarta. E esta minha vida, estou a abandonando, sendo estas palavras o selo de um tempo para o início de outro. A missiva é um sorriso que uma vida ingênua dá a outra, na tentativa de fazer perdurar o amor, sem saber que meu amor por ti não poderia ter fim.
Talvez as palavras rebusquem demais o que sinto, ou façam parecer que meu amor é demasiado fantasma, demasiado etéreo para ser apreciado. Ou talvez o oposto ocorra: as palavras podem esconder a liberdade do meu amor. Pois eu digo com quaisquer palavras e sem confusão: amo-te simplesmente, de modo livre e certo.
Amo em ti teus olhos, e o que sai da tua boca, e o carinho que tua mão faz. Amo teu modo de sorrir, teu grito de raiva e teu abraço de amor. Amo como te despias para mim nas noites loucas. Amo tua voz doce, tuas pernas onipresentes, teus dedos de piano, tuas costas de seda e até teus passos mais trôpegos.. Amo-te toda, amo-te tanto... Minha existência balança quando te vejo, e mesmo quando lembro de ti seguindo um fio solto da memória, tremo, e rezo ateu por tua felicidade.
Não tentes decifrar meu amor, nem penses em como me responder de forma delicada. Não tens de me responder, amando-me ou não. Também não deves sentir-te lisonjeada ou pesada. O que sinto não tem intenção de cansar-te nem de elevar-te. É simplesmente amor. Então nada te peço, senão que aceites meu sentimento. Isto te peço, e só: aceita meu amor que é, de fato, teu.
O mundo, se falasse, diria que é meu amigo, pois te mostrou a mim. Tu és minha professora da vida. Querer-te e não poder dividir contigo o mundo é a máxima lição a ser aprendida. Tu me dás esta lição com um sorriso pleno e sem nenhuma maldade, e assim entendo, mesmo mergulhado em sofrimento, a natureza de tudo quanto existe: a verdade maior da impermanência, e como gera a dor que também deverá sumir. Mas aprendi também que meu amor por ti é mortal na mesma medida em que sou, e só comigo deixará este mundo.
Não sinto mais o amor fraco da dependência, o qual permite o desmembramento da razão. Amo-te o amor maduro do homem para a mulher. Tua felicidade quero sempre, junto ou longe de mim. Assim também, minha festa não exige tua presença, mas a convida ternamente, sabendo da luz que irradia de ti por seres quem tu és.
É-me difícil encerrar esta carta, pois lendo tu pensas em mim, e ao fim dela posso ter acabado. Queria poder manter em ti o pensamento em mim e ter o poder de conjurar-te com estas palavras tolas.
Entende que isto não é papel, e sim verdadeiros fatos. Meu amor é largo e concreto. É desejo de cuidar de ti, paixão por ver-te livre e crescendo. Meu amor são mãos firmes para construir contigo a vida como nos convir. Sou corpo, e sou mundo, e sou para ti. Sou beijos, carícias e servo da paixão nas noites longas. Sou forte quanto precisares, rocha pontiaguda contra teus problemas, ombros macios para tuas mágoas.
Sem ti eu vivo em um mundo,
Contigo eu viveria em dois.
Eu te amo.
F.